segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O comportamento de Benfica e FC Porto no mercado

Azáfama no ar, "chuva" de negócios fantasiosos, vendas e compras fantasma e nervos "à flor da pele": assim se pode caraterizar o último dia do mercado de transferências estival. Mas é também tempo de observações e comentários às incursões dos clubes ao mercado. E hoje é isso mesmo que faremos: vamos analisar as contratações e vendas dos dois principais clubes nacionais, a importância que poderão ter no seu novo destino e se os clubes fizeram a melhor escolha com a sua transação.


Como já era previsível (mercê da agitação destas hostes no mercado), começo por analisar o Benfica, o emblema português que contratou, claramente, o maior número de futebolistas para esta época. As apostas foram: Bruno Cortez, Lisandro López, Steven Vitória, Mitrovic, Sílvio (defesas); Fejsa, Uros Matic, Fariña, Filip Markovic e Djuricic (médios); Funes Mori, Pizzi, Jorge Rojas, Lazar Markovic e Sulejmani (avançados). Em sentido oposto, surgem Melgarejo, Hugo Vieira, Djaniny, Michel, Carole, Nuno Coelho, Felipe Menezes, Miguel Vítor, Nolito e David Simão (em definitivo); Lisandro López, Fariña, Luisinho, Roderick, Sidnei, Pizzi, Nélson Oliveira, Kardec, Airton, José Fernández e Jara (por empréstimo).

No que concerne às saídas (cinjo-me principalmente às irrevogáveis), há que se destacar o caso de David Simão, médio-centro jovem, que tem demonstrado qualidade, já experiente (alguns anos emprestado em clubes de primeira linha) e da formação e que, surpreendentemente para mim, foi "abandonado" pelos encarnados (não se percebe como é que um dos elementos com mais potencial das camadas jovens lusas nos últimos anos não foi aproveitado pelo Benfica). Mas David não é caso virgem. Bem pelo contrário! Neste verão já são vários os exemplos de gestão ruinosa, como Hugo Vieira (ridículo o modo como sai sem sequer ter jogado oficialmente pelos lisboetas), Carole (não demonstrou ser fora de série, é verdade, mas foi aposta recorrente no seu primeiro ano na Luz), Nolito (embora seja muito individualista e limitado, fez uma primeira temporada de alto nível, pelo que deveria ter sido imediatamente vendido) e, principalmente, Melgarejo, que sai, inexplicavelmente, após um ano de aprendizagem, que até foi proveitoso (os poucos erros que cometeu foram de teor técnico, não táctico).

No capítulo das compras, várias merecem nota. Desde logo, três sérvios: Lazar Markovic, figura principal do campeonato sérvio nas últimas temporadas e que, por 10 M€, já tem demonstrado um talento fantástico; Sulejmani, que chega a custo zero, só devido a divergência com os treinadores nunca se afirmou no Ajax; e Djuricic, melhor médio-ofensivo da liga holandesa e que promete trazer magia para Lisboa. Além destes, creio que apenas Sílvio (pela sua polivalência: pode alinhar a defesa-esquerdo e direito), Steven Vitória (fazia falta uma quarta opção para o eixo) e talvez Jorge Rojas (claramente aposta para o futuro) se justificavam, pois de resto os comandados de Jorge Jesus deram um exemplo cabal de como não se deve movimentar no defeso. Senão vejamos: Pizzi não era, de todo, necessário (tal é a quantidade de futebolistas com que as águias contam nas alas), o que se comprovou com o seu empréstimo ao Espanyol (porque motivo se contrata um jogador por cerca de 6 M€ - valor do passe do guarda-redes Roberto - para o ceder?); Funes Mori é só mais um numa equipa com demasiados atacantes (já para não falar no seu potencial duvidoso); com Fariña e Lisandro sucedeu o mesmo que com Pizzi; Mitrovic é mais um defesa-central contratado sem ser preciso (menos espaço para os jovens da "B"); Fejsa vai ficar um ano sentado no banco, o que não é bom para o ego de alguém que custou cerca de 5 M€; Cortez tem "pinta" de jogador de segunda divisão; e, por fim, Uros Matic e Filip Markovic chegaram possivelmente para convencerem os seus irmãos (Nemanja e Lazar, respetivamente). Muitas destas contratações ocorreram, seguramente, para precaver a possível saída de titulares. Porém, a política das "cláusulas de rescisão" afastou potenciais interessados, o que tornou grande parte dos negócios num "luxo".

Assim, com as principais figuras do ano transato no elenco, e ainda com novos jogadores de talento inegável, supunha-se que os encarnados brilhassem desde o ínicio. Contudo, tal coisa não está a acontecer. Estranho? Não, pois quem compra um Cortez e "dispensa" Melgarejo (esta temporada seria a da afirmação) e oferece a titularidade na lateral direita a Maxi Pereira não pode aspirar a mais. Assim sendo, como consequência, no cômputo geral, temos que considerar as movimentações dos encarnados como negativas, já que não conseguiu fazer dinheiro (a ver as consequências que traz à saúde das finanças), contratou jogadores reputados para emprestar (grande revés nas intenções de Luís Filipe Vieira) e descurou por completo a defesa (houve demasiada preocupação com o ataque em detrimento do setor recuado). Os avançados podem ganhar jogos, mas são os defesas que ganham campeonatos...

Mais a norte, aconteceu exatamente o oposto, com os dragões a contratarem dois tipos de futebolistas: uns indicados para camuflar zonas deficitárias; outros a pensar no futuro. No primeiro caso, chegaram Quintero, Licá, Josué, Carlos Eduardo e Herrera. No segundo, contratações de Bolat (para render Helton), Ghilas, Tiago Rodrigues, Reyes e Ricardo. Numa análise mais individual, Juan Quintero, ex-Pescara (custou 5 M€) vem trazer uma magia que se perdeu com a venda de James e que, no plantel às ordens de Paulo Fonseca, só se encontrava em Lucho. Herrera (ex-Pachuca, 8 M€) é jovem, tem uma margem de progressão enorme e será crucial para auxiliar no meio-campo (esta posição ficava algo "fraca" sem o mexicano). Reyes esperará por um lugar ao sol  no eixo, o que, mais tarde ou mais cedo, ocorrerá (já é hábito no FC Porto a compra de centrais para se irem sucedendo). Licá e Josué vêm para, possivelmente, serem titulares a extremos e, pelo que se tem visto, são boas apostas. Ghilas vem acautelar a saída de Jackson (talvez daqui a um ano) e promete não acusar a pressão. Carlos Eduardo fará concorrência a Defour, Herrea, Lucho e Quintero no meio-campo portista. E, finalmente, Tiago Rodrigues e Ricardo chegam para evoluir (já demonstraram ter potencial no Vitória de Guimarães). Se neste capítulo os azuis e brancos estiveram bem, nas vendas ainda estiveram melhor: Moutinho e James saíram por 70 M€ (o que terá desequilibrado as contas foi o colombiano, que nunca mostrou ser fora de série) e Fernando e Atsu (o brasileiro ainda não é oficial), em fim de contrato, ainda valeram 21,5 M€ (4 pelo o primeiro e 17,5 pelo segundo).

Pelo que se constata, três jogador importantes dos nortenhos foram transferidos (o "polvo", o "bandido" e o centrocampista português) mas, mesmo assim, o plantel não perdeu qualidade. Pelo contrário, até melhorou.

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